domingo, 11 de janeiro de 2015

Grigori Langsdorff no Brasil


Grigori Langsdorff
O primeiro russo a pisar no Brasil



Os primeiros navios russos chegaram ao Brasil em 1804. Eram as corvetas militares Nadezhda e Neva que realizavam, pela primeira vez na história da marinha russa, uma viagem de circunavegação. Enquanto avançavam ao longo do litoral do enorme país tropical, os dois barcos fizeram escala em vários portos brasileiros. A recepção oferecida em toda parte aos viajantes foi cordial.

Em Recife, os habitantes locais convidaram os marinheiros russos a assistir a uma festa na cidade. No auge dos festejos, os convidados começaram a bailar uma dança russa. Os brasileiros gostaram tanto dela que chegaram a aprendê-la, repetindo-a imediatamente. A estadia em Recife não foi longa mas os marinheiros russos tiveram que permanecer durante mais de dois meses ao largo da ilha de Santa Catarina a fim de trocar dois mastros da corveta Neva, danificados por uma procela. Quem ficou mais satisfeito com a delonga foi o cientista Grigori (Gregory) Langsdorff, um dos participantes da expedição. Ele mudou-se do navio para a costa e instalou-se em casa de um naturalista local. Realizou juntamente com ele viagens de lancha, estudando a natureza local. 


Grigori Langsdorff não sabia ainda o lugar que o Brasil iria ocupar no seu destino.
Em 1812 foi publicada a sua obra em dois volumes em que se descrevia a primeira viagem russa de circunavegação. Esta obra do acadêmico Langsdorff incluía informações geográficas e observações científicas excecionalmente interessantes, feitas nas terras longínquas e nas vastidões do oceano. A obra foi traduzida para outras línguas e teve ampla repercussão. Neste mesmo ano de 1812, Grigori Langsdorff foi nomeado cônsul-geral da Rússia no Brasil e exerceu este cargo durante oito anos. A atividade do cientista-diplomata visava conseguir uma maior aproximação entre os dois países e contribuir para o desenvolvimento do comércio entre eles. Langsdorff fez muito a fim de difundir neste país longínquo informações sobre a sociedade russa. Ao mesmo tempo, foi graças a ele que a Rússia soube mais sobre o Brasil.

Em princípios do século XIX, começaram a chegar ao Brasil grupos de imigrantes do Velho Mundo, contratados para trabalhar nos cafezais. Grigori Langsdorff revelou interesse em relação aos problemas do movimento migratório que então começava. Em 1813, ele informa o Colégio das Relações Exteriores de São Petersburgo: “O governo local faz esforços a fim de desbravar as vastas e férteis terras virgens do Brasil. Pessoas de todas as nacionalidades são convidadas a participar disso. Cada uma recebe terras, cuja área supera uma légua quadrada da França, as autoridades fornecem alimentos e sementes para um ano” Langsdorff organizou a vinda para o Brasil de cerca de cem imigrantes da Europa e instalou-os na fazenda de Mandioca, que ele tinha adquirido. O cônsul russo dirigiu-se às autoridades um pedido de ajuda no alojamento de migrantes. Ele escreveu: “Vou criar na minha fazenda ramos de produção que são totalmente desconhecido aqui e representam um grande interesse para este país”. De acordo com o intento do autor, a fazenda de Mandioca devia tornar-se um povoado exemplar do tipo europeu com técnicas progressistas de cultivo da terra e diversos artesanatos. Aí existiam plantações de café, de mandioca, milho, um jardim botânico, um museu de mineralogia e uma biblioteca em que havia livros científicos de mais diversas áreas.

As autoridades brasileiras apoiaram o projeto de Langsdorff. Mas o sistema de escravatura que vigorava então no país não favorecia o desenvolvimento da atividade com a participação de trabalhadores contratados livres. A situação começou a mudar vários anos depois, quando a escratura foi abolida. No entanto,  a fazenda de Mandioca virou um centro da ciência e da cultura do Brasil, que gozava de merecido reconhecimento. Não foi por acaso que as autoridades convidaram o cônsul russo a exercer a função do principal consultor nas questões de colonização do Brasil por imigrantes europeus. Langsdorff redigiu e editou uma brochura especial destinada aos que desejavam imigrar para o Brasil.

Durante todo o tempo de exercício das funções de cônsul, Grigori Langsdorff sonhava em realizar grandes viagens pelo Brasil. Oito anos depois ele aposentou-se, retornou para São Petersburgo e propôs um projeto sem precedentes de uma expedição científica geral ao interior, então não explorado, deste país tropical. O projeto era caro mas o imperador Alexandre I apoiou-o. Foi assim que Grigori Langsdorff chefiou a maior expedição científica que se prolongou desde 1821 até 1829. Naquela época, o volume de conhecimentos sobre o Brasil era tão escasso que nos mapas as suas regiões de acesso mais difícil eram marcadas com uma mancha branca. O cientista, inspirado por tão alto patrocínio, reuniu uma equipe de correligionários, que incluía botânicos, zoólogos, astrônomos, desenhadores, caçadores e guias. Foi com eles que Langsdorff partiu rumo aos locais mais remotos, em que jamais um explorador estivera. Inicialmente, a expedição explorava as selvas, os vales dos rios e as serras montanhosas nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo. A seguir, foi a Minas Gerais e Mato Grosso explorando regiões tropicais selvagens de acesso excecionalmente difícil. A expedição percorria enormes distâncias montada em mulas ou cavalos, de carroça, de barco ou a pé. Trocavam-se os arrieiros e guias, mas não os membros da expedição. Os exploradores chegaram aos rios Paraná e Paraguai. Durante todo este tempo, eles não somente estudaram a flora e fauna, mas também recolheram material etnográfico, estudavam as línguas e o modo de vida dos índios locais.





A equipe de Langsdorff penetrava cada vez mais fundo neste espaço desconhecido e todos os anos traziam novas e novas descobertas. Durante sete anos, a expedição percorreu 12 mil quilômetros. A envergadura da expedição resultou tão grande que o governo russo teve que aumentar o seu financiamento.

O cientista-humanista prestou também a devida atenção à vida dos brasileiros nas regiões mais remotas do país. Ficou pasmado com a situação precária dos operários que trabalhavam nas minas de diamantes e de ouro na região da cidade de Cuiabá. O cientista escreveu: “As neblinas, pântanos, rios, pequenos lagos, fontes e outros obstáculos tornam o trabalho nas minas de ouro e nos terrenos diamantíferos extremamente difícil. As pessoas morrem cedo, sem alcançar a idade que os habitantes de outras províncias alcançam. Hipertermia maligna, febre, pneumonia, icterícia, disenteria – em poucas palavras, aqui estão presentes todas as doenças, que jamais vi em alguma outra parte do Brasil. Eu próprio, aproveitei os meus conhecimentos na esfera de medicina para ajudar gratuitamente os doentes, merecendo assim a sua gratidão...”


Mas Langsdorff não conseguiu evitar ele próprio de ficar doente. Em Cuiabá, ele dividiu a expedição em duas partes, que começaram a avançar em sentidos diferentes a fim de abranger um território maior. De acordo com os planos, deveriam encontrar-se em Manaus, principal porto da região do Amazonas. Mas este plano jamais chegou a ser realizado. A unidade de Langsdorff trabalhou durante muito tempo no clima úmido e insalubre dos pântanos, o que não pode ser qualificado de outra maneira senão como auto-sacrifício em prol da ciência. Em 1828, alguns membros da equipa de Langsdorff contraíram a febre tropical, e alguns nem sequer podiam caminhar. A doença afetou gravemente também o dirigente da expedição. Ele nem sequer podia continuar a fazer anotações, que foram interrompidas no vigésimo sexto caderno. O cientista teve que interromper a viagem e retornar ao Rio de Janeiro e, mais tarde, a São Petersburgo. Não conseguiu recuperar das consequências desta doença até o fim dos seus dias.


As coleções botânicas e zoológicas, recolhidas pela expedição de Langsdorff, e especialmente os materiais e desenhos etnográficos, representaram um grande interesse para a ciência, tendo sido a base das coleções de materiais sul-americanos da Academia de Ciências da Rússia. O herbário brasileiro de Langsdorff continua até hoje a ser uma das maiores coleções do mundo de plantas tropicais.

Agora é reconhecido por todos que a expedição da Academia de Ciências de Petersburgo chefiada por Grigori Langsdorff deu início às pesquisas científicas do território do Brasil. Já nos nossos dias, na capital do Brasil, foi criada a Associação Internacional de Estudo da Herança de Langsdorff. É de se notar que a criação do documentário brasileiro Seguindo as pegadas da expedição de Langsdorff contou com a participação da pintora Adriana Florence. Ela esteve nos locais em que outrora o seu bisavô Hercules Florence, participante da expedição de Langsdorff, fez os desenhos das florestas e animais. Cem anos depois, ela pôde certificar-se da justeza das palavras do grande cientista: “O Brasil é um dos locais da Terra que ainda durante muito tempo continuará a ser uma fonte de descobertas ricas. A variedade de plantas e animais aqui é tão grande que mesmo as ilustrações mais pitorescas e perfeitas não conseguem exprimir a beleza indescritível de sua natureza”.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/radio_broadcast/90474451/97579848/

Nenhum comentário:

Postar um comentário