SANTAYANA: O BRASIL
PRECISA TER A BOMBA !
“Não sei o que é pior para o Brasil – se a suposta loucura do Darcy, ou a suposta lucidez de Fernando Henrique.”
Ainda faz sentido falar em nacionalismo ?
Depois da globalização, das multinacionais, em pleno século XXI e no Brasil – que sentido pode ter o nacionalismo, hoje ?
O nacionalismo é a ideologia que permite articular a defesa da pátria que amamos, porque é nossa, de uma agressão.
Especialmente agora que o Brasil achou o pré-sal.
No Brasil, hoje, ser nacionalista é ser solidário com com os países da América Latina.
Como dizia Perón: o século XXI nos encontrará unidos ou dominados.
Por tudo isso, o Brasil deve ter a bomba atômica.
Por que não tem nenhuma ONG que vá à Sibéria reclamar do desmatamento ?
Porque a Rússia tem todas as bombas.
Essas são palavras do jornalista Mauro Santayana, no programa Entrevista Record Atualidade, desta segunda-feira, às 22h15, na Record News, logo após o programa do Heródoto Barbeiro.
Mauro Santayana acaba de fazer 80 anos.
Com exceção da Revista do Brasil e do jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, trabalha na internet.
Ele trabalha no Jornal do Brasil online, é blogueiro, e já trabalhou na Folha, na última Hora, em Minas, foi jornalista no exílio, no México, em Cuba, na República Tcheca, e, depois, como correspondente, na Espanha, na Itália e na Alemanha.
Santayana já viu tudo.
Ou quase tudo. E muito do que sabe deve à convivência, por muito tempo, com Tancredo Neves.
Amigo, confidente, companheiro de articulações políticas, Santayana e Tancredo eram tão próximos que, um dia, depois de ler o rascunho de um discurso escrito por Santayana e que ia ler em seguida, Tancredo disse: não sei você escreve o que eu penso ou se eu penso o que você escreve.
Santayana admite a paternidade de poucas frases de Tancredo.
Por exemplo, “não se paga a dívida externa com a fome do povo”, pronunciada nos Estados Unidos, depois de eleito.
Tancredo foi Ministro da Justiça de Vargas aos 42 anos.
Na noite do dia 23 de agosto, véspera do suicídio, Tancredo sugeriu ao Ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, recrutar uma tropa de elite para prender os revoltosos e esconder Carlos Lacerda no interior de Minas.
O Ministro da Guerra respondeu: “seremos esmagados”.
Tancredo retrucou: Ministro, poucas pessoas tem a possibilidade de morrer por uma boa causa. Por que não aproveitamos essa ?
Santayana lembra que a última viagem de Vargas foi a Belo Horizonte
Aparentemente, para inaugurar a siderúrgica Mannesman.
Mas, na verdade, o governador JK pretendia, com Tancredo, articular uma resistência ao Golpe, a partir de Minas.
Mas, Vargas recusou.
Em plena Guerra da Coréia, ele temia que os Estados Unidos aproveitassem a secessão para dividir o Brasil ao meio, como na Coréia.
E esse teria sido, no fundo – acredita Santayana -, o motivo por que Jango não resistiu, em 1964.
Tancredo foi Primeiro-Ministro de Jango e seu líder na Camara.
E tinha profunda admiração por Vargas.
Sobretudo por seu senso de nacionalismo.
Mas, também pela astúcia de Vargas – “Maquiavel é pinto para o sr Getúlio Vargas”, dizia Chateaubriand.
Santayana conta episódio que consta do livro de Lira Neto, “Getúlio, 1882 1930 – Dos anos de formação à conquista do poder”, da Companhia das Letras.
Na página 28, ele conta que, criança, Getúlio e um amigo, numa estrepolia, derrubaram um quadro na parede do pai, Manoel Vargas, e o espatifaram no chão.
Um quadro a óleo de Julio de Castilhos, o guia político de Manoel Vargas.
Com medo, os dois subiram num umbuzeiro e se esconderam.
E lá ficaram, noite adentro, até esperar a fúria do pai passar.
Quando viram a mãe, dona Candoca, na porta da casa, em prantos, em busca do filho sumido, ele desceu.
E guardou uma lição para o resto da vida: “Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”.
Com a mesma astucia, pouco antes da posse, Tancredo incumbiu Santayana de estudar o modelo das televisões públicas européias, especialmente a alemã e a inglesa.
Quem tivesse um aparelho de televisão e quisesse ter acesso, pagava – como a BBC e a Deutsche Welle.
Tancredo estava especialmente preocupado com a degradação dos costumes de que a tevê brasileira se tornara um instrumento.
Ele achava que as crianças não poderiam ser expostas àquilo.
Mas, ele não se preocupava com a Globo?, que o apoiou e até indicou o Ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães.
Uma coisa é ganhar a eleição, outra, governar.
Governar é pelo centro, preferia Tancredo.
Se governar pela Direita aliena a esquerda e vice-versa.
Radical, só no nacionalismo.
Governar é administrar recursos, dizia Tancredo.
Por isso, seu Ministro da Fazenda foi o sobrinho e hoje senador Francisco Dornelles.
Preciso de um Ministro da Fazenda que seja de minha estrita confiança, disse Tancredo a Santayana.
Tancredo jamais entregaria o Ministerio da Fazenda a um paulista.
Tanto assim que nomeou o aliado Olavo Setúbal, dono do Banco Itau, Ministro das Relações Exteriores e não da Fazenda.
Como disse a Santayana que, apesar das pressões de Franco Montoro, essa mão aqui, e mostrou a mão direita, jamais assinará uma nomeação de Fernando Henrique para o Ministério.
Ele disse, uma vez, depois de assistir a uma palestra de Darcy Ribeiro: não sei o que é pior para o Brasil – se a suposta loucura do Darcy, ou a suposta lucidez de Fernando Henrique.
Tancredo ia promover, depois de eleito, em agosto, uma reunião de presidentes da America do Sul para discutir o pagamento da dívida externa.
Por fim, o ansioso blogueiro perguntou se Tancredo – que se elegeu Presidente num colégio eleitoral, ao derrotar Paulo Maluf – se submeteria à eleição direta, caso a Emenda das Diretas passasse no Congresso.
Sim , disse Santayana.
Ele estava convencido da vitoria no voto direto e no que chamava “conselho” eleitoral.
Estava na hora de levar os militares até o ponto de ônibus de volta para casa, disse Tancredo, em voz baixa a Santayana.
Paulo Henrique Amorim
(http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/10/01/santayana-o-brasil-precisa-ter-a-bomba/)
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